Piratas ou usurpadores judeus do Caribe?
Quem foram os judeus do Caribe desde a descoberta das Américas?
Após decreto assinado pelos reis espanhóis, Fernando e Izabel em 1492, a Igreja Católica, pelos tribunais do Santo Ofício torturou, expulsou, matou e confiscou todos os bens da comunidade judaica de Portugal e Espanha em nome da Inquisição.
Muitos judeus sefaraditas, levando poucas roupas e alguns objetos de uso pessoal, fugiram para a Holanda, Marrocos e para o Caribe no Novo Mundo em busca da moral, da sua religiosidade e da liberdade social e econômica para sua sobrevivência e da sua família. O primeiro êxodo pelo Oceano Atlântico se deu com a expedição do navegante genovês Cristóvão Colombo que partiu de Puerto de Palos, na região espanhola da Andaluzia, para descobrir as Américas em 1492.
No museu da primeira Sinagoga das Américas em funcionamento até os dias atuais, localizada na Rua Cristóvão Colombo (Cristóbal Colon Strasse) em Curaçao (ilha holandesa no Caribe) há uma TORAH muito antiga que dizem ter sido conduzida por Cristóvão Colombo em sua nau caravela.
A partir do século XVI a multidão de judeus pobres, sendo chamada de vagabunda, desvalida e desempregada, exilada da Europa e sem auxílio nem proteção foi evacuada da Holanda em barcos para as ilhas e colônias do Caribe, fazendo com que se juntassem as naus piratas dos holandeses e ingleses para tomar os produtos de saques espanhóis e portugueses roubados dos indígenas e povos pré-colombianos do México, das Antilhas e da América do Sul, principalmente ouro, prata e diamante, a fim de que estes tesouros não chegassem às mãos de governantes da península Ibérica e Itália, que eram comandados pela Igreja, com consequente enriquecimento desta. Era a vingança contra todos e tudo que passaram na Europa, constituindo um verdadeiro golpe contra as gloriosas armadas espanhola e portuguesa, ditas como invencíveis, espalhando terror entre elas.
Nas ilhas do Caribe desenvolveram uma nova vida e se fortaleceram, pois a coroa hispano-portuguesa mantinha os hebraicos sob seu jugo, com estabelecimento de muitas leis anti-judaicas. Ali muitos se fizeram piratas e corsários, lutando ao lado dos que os acolheram, iniciando desta forma intensa disputa com represália contra a Igreja e seus reis e rainhas que impuseram a Inquisição ao seu povo, navegando em busca de liberdade, como um ato de vingança contra aqueles que os humilharam, expulsaram e confiscaram seus bens que conseguiram com muito esforço com ajuda das suas famílias.
Acharam aí o necessário que lhes faltava na Europa. Muitos chegaram ao Caribe e à América do Norte com as naus holandesas no Século XVII após serem expulsos pelos portugueses do Nordeste Brasileiro em 1654, juntamente com os holandeses, principalmente de Pernambuco. Alguns por lá ficaram se miscigenando com a população nas pequenas comunidades no interior nordestino.
A condição judaica é dada pela categoria étnica definida pela sua religiosidade, diferenciando-a dos demais grupos na sociedade, com história, cultura e valores bem definidos e preservados, com forte tradição bíblica, com diferença entre o povo de Israel (AM ISRAEL) e os “goim” (gentios ou outras nações).
No Caribe, na condição bastarda e sem pátria, se tornaram piratas judeus, orgulhosos de sua origem e identidade, dando nomes hebraicos aos barcos, tais como “ESCUDO DE ABRAHAM”, “PROFETA SAMUEL” e “RAINHA ESTHER”. Velhos cemitérios judaicos espalhados na Jamaica, Curaçao, Barbados e outras ilhas selam com suas sepulturas inscritas em hebraico concomitante ao símbolo pirata da caveira com dois ossos entrelaçados, a presença destes bravos judeus desde o descobrimento do Novo Continente.
Preservaram o Shabat não lutando nestes dias santificados e em algumas ilhas montavam pequenas Sinagogas em solo arenoso. Entre os piratas judeus mais notáveis se destacam nomes como Dom Moisés Cohen Enriques e seu irmão Abraão, que se aliaram ao almirante holandês Piet Hayne em 1628; o rabino Samuel Pallache, marroquino, amigo pessoal do príncipe holandês Maurício de Nassau, que tinha bandeira holandesa em sua nau com tripulação marrana; também o francês Jean Lafitte, que ajudou Andrew Jackson a derrotar os ingleses na batalha de New Orleans em 1815; e Yacoob Mashaj e sua esposa Deborah.
O corsário Sinan, conhecido como o Grande Judeu nasceu na Turquia, primeiro ajudante do famoso pirata Barba Ruiva, atuava no mar Mediterrâneo sendo nomeado depois como supremo comandante da marinha do sultão otomano, seus restos mortais estão num cemitério judaico na Albânia e na sua bandeira havia uma estrela de seis pontas chamada de “SELO DE SALOMÃO”.
David Abravanel, descendente de rabinos espanhóis, fugindo da Inquisição veio para as Antilhas se tornando bucaneiro, que juntamente com os ingleses, assolou as costas sul-americanas, utilizando o pseudônimo “Capitão Davis”, comandando uma bonita nau caravela chamada “THE JERUSALEM”, que tinha a característica de não atacar no Shabat e seus alimentos eram rigorosamente “casher” (“kosher”), com documentos de viagem escritos em caracteres hebraicos.
O Capitão Davis era amigo do filho do corsário Sir Francis Drake e estabeleceram uma aliança anti-espanhola que ficou conhecida como “Fraternidade da Bandeira Negra” (BLACK FLAG FRATERNITY). O judeu Yakov Koriel possuía três barcos corsários, e em certa época abandonou suas atividades de bastardo, viajou para Israel onde se dedicou ao estudo da KABBALAH em Safed (Tsfat) de 1534 a 1572, sendo aluno do RABINO ISAAC LAURIA, junto a quem foi enterrado a pedido deste.
A perseguição aos hebraicos ultrapassou a Península Ibérica, chegando a todas as colônias portuguesas e espanholas da América do Sul e da América Central, fazendo com que os judeus se transformassem em fortes piratas e bucaneiros, causando mais ainda temor aos marinheiros ibéricos, respondendo a violência e a injustiça que lhes impuseram.
Por Dr. Simão Arão Pecher – Alergista e Dermatologista
Da Academia Brasileira de Médicos Escritores (ABRAMES)
simaopecher@yahoo.com.br
Bibliografia:
-Edward Kritzler: Jewish Pirates of the Caribbean. 2008.
-Mordechai Arbell: The Jewish Nation in the Caribbean. 2002.
-Moshe Vainroj: Los Piratas Judios de Jamaica. ESefarad. 2010.
Rabino Nissan Ben Avraham: Piratas Judeus no Caribe. Shavei Israel. 13.10.2013.
-Reginaldo Jonas Heller: Diáspora Atlântica=A Nação Judaica no Caribe, séculos XVII e XVIII – Tese de pós-graduação-Universidade Federal Fluminense. 2008
-Simão Arão Pecher: Inquisição e Nazismo. Comité Israelita do Amazonas. 2.10.2013.