O Tabernáculo e a Restauração dos Anussim
Comentário da Parashat Terumá, Êxodo 25:1–27:19
וְעָ֥שׂוּ לִ֖י מִקְדָּ֑שׁ וְשָׁכַנְתִּ֖י בְּתוֹכָֽם׃
“E me farão um santuário, e habitarei no meio deles.” (Êxodo 25:8)
A ordem para construir o Mishkan (Tabernáculo) é fundamental dentro da estrutura da Parashá Terumá. Além de orientar um empreendimento arquitetônico, este mandamento também revela uma profunda verdade teológica: a presença de Deus não deseja estar confinada a uma estrutura física, mas sim habitar dentro do Seu povo. O Tabernáculo — e, mais tarde, o Templo — servia como um meio de educação para Israel sobre santidade, o significado do pecado e, mais importante, sua vocação divina: ser um reino de sacerdotes e uma nação santa. (Êxodo 19:6)
O filósofo e teólogo judeu Michael Wyschogrod dedicou considerável atenção à ideia da presença de Deus habitando no povo de Israel. Ele destacou que Israel não foi escolhido para ser a “morada de Hashem no mundo criado” para seu próprio benefício, mas para a redenção do mundo (The Body of Faith: God and the People of Israel, p. 212). Um Israel restaurado e reunificado serve como evidência do amor de Deus pelo mundo e auxilia em sua salvação. Essa perspectiva corresponde a muitas profecias sobre a restauração de Israel, como em Isaías 60:1-3:
“Levanta-te, resplandece, porque a tua luz é chegada, e a glória do Senhor nasce sobre ti. Porque eis que as trevas cobrirão a terra, e a escuridão os povos; mas sobre ti o Senhor virá surgindo, e a sua glória se verá sobre ti. E as nações caminharão para a tua luz, e os reis, para o resplendor que nasceu sobre ti.”
O apóstolo Paulo relaciona a restauração de Israel com a revelação de Yeshua ao Seu povo, trazendo um avivamento mundial sem precedentes:
“Porque, se a rejeição deles (em relação a Yeshua) significa a reconciliação do mundo, o que será a sua aceitação, senão vida dentre os mortos?” (Romanos 11:15)
Israel foi criado para ser o Mishkan de Deus, o lugar onde Ele habita entre as nações. Toda vez que anunciamos as Boas Novas da redenção em Yeshua ao nosso povo, estamos trabalhando para a restauração do Seu Mishkan. Mas há outra maneira de participar dessa tarefa divina: ajudando os filhos de Abraão a retornarem à sua herança perdida. Essa reconexão é um elemento crucial da restauração escatológica de Israel, que, por sua vez, sinaliza a redenção final do mundo. Um exemplo que se destaca nesse caso são os Anussim, os descendentes de judeus que foram forçados à conversão durante a época da Inquisição.
Podemos traçar um paralelo entre a estrutura básica do Mishkan e a jornada espiritual dos Anussim. O Mishkan tinha três níveis de santidade:
- O Pátio Externo – aberto a todos os israelitas, representando a fase inicial da restauração, onde a identidade judaica é resgatada.
- O Lugar Santo – acessível apenas ao sacerdócio, simbolizando um compromisso mais profundo com o refinamento espiritual.
- O Santo dos Santos – onde repousava a Shechiná (Presença Divina), representando a plena reintegração ao povo de Israel.
O sábio português Don Isaac Abarbanel, que testemunhou a expulsão dos judeus da Espanha em 1492, previu o retorno dos Anussim em seu comentário sobre Ezequiel 20:
“O Recolhimento dos Exilados incluirá não apenas aqueles que fazem parte da comunidade de Israel, mas também aqueles que foram forçados a deixar a fé, pois todas as ovelhas de Deus retornarão ao rebanho.” (Disponível em: https://www.jpost.com/opinion/fundamentally-freund-the-abarbanel-and-the-return-of-the-bnei-anusim-423752)
Escrevendo sobre Deuteronômio 30, Abarbanel acrescenta:
“Nos Últimos Dias, Deus despertará no coração dos Anussim o desejo de retornar a Ele… E quando eles voltarem para Deus e O seguirem, cada um conforme sua condição e capacidade, Ele promete que o Deus exaltado os trará para perto d’Ele.”
Abarbanel estava convencido, com base em sua interpretação da profecia bíblica, de que os Anussim um dia retornariam ao povo de Israel. Mas seu retorno não se trata apenas de seu próprio anseio—trata-se também do mundo judaico abrir seu coração para recebê-los.
Hoje, assim como no passado, o retorno dos Anussim é visto em muitas comunidades judaicas como um sinal da redenção de Israel. Sua história é marcada por lágrimas, triunfos e fidelidade. Após séculos de conversões forçadas, perseguições e até exílio, eles nunca perderam completamente sua identidade judaica. A alma judaica dentro deles agora clama:
“Precisamos voltar para casa!”
Seu retorno hoje é um testemunho da restauração de Israel, ecoando a visão profética do vale de ossos secos de Ezequiel:
“Eis que abrirei as vossas sepulturas e vos farei sair das vossas sepulturas, ó meu povo, e vos trarei à terra de Israel.” (Ezequiel 37:12)
O pensador judeu medieval Rabino Yehuda HaLevi escreveu em O Kuzari sobre a visão da restauração de Israel em Ezequiel:
“Esses ossos retêm um traço de vitalidade, porque foram uma vez os vasos de um coração vivo, cabeça, espírito, alma e mente.” (Disponível em: https://machonmeir.net/wp-content/uploads/2023/02/kuzari-intro-part2-end.pdf.)
Essa imagem se encaixa nos Anussim, que, embora ocultos por séculos, permaneceram uma parte vital do corpo espiritual de Israel. O profeta Jeremias também previu essa restauração, representada em uma Nova Aliança feita com um ISRAEL unido e reunificado (Casa de Israel e Casa de Judá):
“Eis que vêm dias, diz o Senhor, em que farei uma nova aliança com a casa de Israel e com a casa de Judá… Porei a minha lei dentro deles, e a escreverei no seu coração. E eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo.” (Jeremias 31:31, 33)
Nos dias de hoje, as conversas sobre o retorno dos Anussim estão crescendo nos círculos acadêmicos. Mas até que ponto essa questão envolve o judeu discípulo de Yeshua? O essencial é que, se acreditamos na futura redenção de Israel, devemos aceitar que o retorno dos Anussim é um ato de Deus, com Yeshua no epicentro. Será que nosso movimento (Movimento Judaico-messiânico) desempenhará algum papel neste ajuntamento profético do nosso povo?
No Brasil, o Ministério Ensinando de Sião, a Congregação Har Tzion e o Museu da História da Inquisição estão ativamente trabalhando para reconectar os Anussim com sua herança judaica. Através de pesquisa histórica, educação e orientação espiritual, ajudamos a redescobrir seu lugar na história da aliança de Israel, preservando o maior presente que Israel lhes deu: Yeshua, nosso Messias prometido!
Isso é mais do que um simples assunto interessante ou uma história trágica; a restauração dos Anussim faz parte do processo de restauração de Israel. Deus certamente trará de volta os dispersos de Israel, quer nos envolvamos ou não. A boa notícia, no entanto, é que Ele está nos dando a oportunidade de participar dessa redenção, sendo Seus parceiros. A questão é: Aceitaremos esse desafio como seguidores judeus de Yeshua?
O foco de Yeshua sempre foi a restauração—buscar as ovelhas perdidas da Casa de Israel e preparar o mundo para a redenção. A construção do Mishkan foi uma missão divina que simbolizava um Israel restaurado como habitação do Eterno, refletindo a luz de Deus para toda a humanidade. O retorno dos Anussim faz parte desse processo.
“Naquele dia, restaurarei o Tabernáculo caído de Davi. Repararei suas brechas, restaurarei suas ruínas e o edificarei como nos dias antigos, para que possuam o restante de Edom e todas as nações que são chamadas pelo meu nome”, declara o Senhor, que fará estas coisas. (Amós 9:11–12)
Ao refletirmos sobre Parashat Terumá, nunca nos esqueçamos de que somos tabernáculos vivos da Shechiná de Deus. Nosso objetivo é manifestar Sua luz, demonstrar amor e participar ativamente de Suas promessas de aliança, sendo Seus parceiros no processo de redenção do mundo.
“O Reino de Deus está dentro de vós.” (Lucas 17:21)
Vamos abraçar esse chamado e trabalhar com o Todo-Poderoso para restaurar Israel, para que o mundo inteiro possa novamente ser um lugar da presença divina de Deus.