Algumas famílias mineiras, tradições e costumes
Com dissemos, anteriormente, as Minas Gerais de ouro, esmeralda e diamantes atraíram os judeus e cristãos-novos, que vieram dos estados do norte brasileiro, de Portugal e de outros países, como Espanha e Itália.
O grande fato é que o elemento judeu deixou um relevante legado no caldeamento étnico do Brasil colônia. Por isso, o tronco étnico do povo brasileiro é riquíssimo e, pode até ser considerado um fenômeno, a miscigenação de raças e costumes.
O escritor Manuel Diegues Júnior expõe no seu livro “Regiões Culturais do Brasil”o seguinte parágrafo:…”A esses grupos portugueses ou lusos brasileiros ou, pelo menos mestiços com algum sangue português, ajuntaram-se os estrangeiros que foram em grande número nas Minas.
À presença deles já se referia Antonil: confirmam essa participação as modernas pesquisas do Professor Manuel Cardoso. Embora não sendo em grande número, segundo informa o professor Cardoso, exerceram os estrangeiros, influência significativa na economia e na vida social da região. E, acrescenta Gilberto Freire que tudo parece indicar teriam sido esses estrangeiros, principalmente, negociantes, usuários ou intermediários, vários Deles judeus ou israelitas.
De judeus sabe-se que foram numerosos os que apareceram e fixaram em Minas Gerais. Augusto de Lima Júnior, no seu estudo sobre Minas, localizou as maiores aglomerações de judeus: Paracatu, Serro Frio, Sabará, Pitangui, aredores de Ouro Preto e Mariana. O que não exclui outros pontos, ou todos os pontos mineiros por onde se espalharam como donos de comércio, rancheiros, compradores de ouro de contrabando, cambueiros de negros e ambulantes mascates.
Chegaram os israelitas a constituir verdadeiros guetos, ainda hoje reconhecidos pela inexistência de capelas, em suas ruínas. Através de casamentos com portuguesas ou lusa-brasileiras, acabaram-se diluindo-se na população, inclusive participando de irmandades religiosas…”(1)
Segundo a autora do livro “A Inquisição em Minas Gerais”, Neusa Fernandes, da Editora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, podemos ver claramente através do seu trabalho de pesquisa junto a cartórios, documentos antigos, etc. a relação de algumas das cidades mineiras e seus moradores registrados como cristãos-novos no período de 1712 e 1763. (Devido ao volume de nomes e sobrenomes, gostaria apenas de citar as cidades e os sobrenomes que foram de maior ocorrência).
- Em Brumado: a família Azevedo.
- Em Cachoeira: Pereira da cunha, Fernandes de Matos, Rodrigues, Moreira, Henriques, Nunes e Sanches.
- Em Caeté: Nunes Ribeiro, Bicudo, Barros e Fonseca.
- Em Catas Altas: Ferreira Izidro (Isidoro), Pereira Chaves.
- Em Congonhas do Campo: Moraes e Oliveira.
- Em Córredo do Pau das Minas de Arasualhy: Pereira, Ávila e Fernandes Pereira.
- Em Curralinho: Miranda, Roiz, Rodrigues, Nunes, Henriques, Lopes Álvares,, Mendes e Mendonça.
- Em Diamantina (antigo Tijuco):Ribeiro Furtado, Fernandes, Dias Correa, Rodrigues e Nunes.
- Em Fornos: Rodrigues Cardoso.
- Em Itaperava: Sá Tinoco.
- Em Minas de Arassuahi: Fernandes Pereira, Costa e Silva e Henriques.
- Em Em Minas Novas de Fanados: Lara, Fonseca da Costa e Ferreira.
- Em Minas Novas de Paracatu: Ribeiro Sanches, Henriques, Nunes e Britto Ferreira.
- Em Ouro Branco: Lopes.
- Em Ouro Preto (antiga vila Rica): Miranda, Fernandes, Pereira, NunesGomes, Fróes, Rodrigues, Moraes, Costa, Cruz, Mendes, Almeida, Vale, Roiz e Martins.
- Em Parapanema: Afonso e Miguel.
- Em Pitangui: Pereira da cunha, Rodrigues, Roiz, Nogueira, Silveira,Bicudo e Henriques.
- Em Ribeirão do Carmo (Mariana): Miranda, Almeida de Sá, Dias Fernandes, Rodrigues Pinto, Roiz, Cardoso, Pereira Chaves, OliveiraMattos, Pereira da Cunha e Mendes.
- Em Rio das Mortes: Miranda, Azevedo, Vale, Machado Coelho, Pereira de Araújo, Lara, Nunes Alves, Benar, Vizeu
- Em Sabará: Miranda, Oliveira, Matos Henriques, Lucena Montarroio,Rodrigues Pinto, Nunes de Almeida, Henriques, Ferreira, Costa, Mendes de Sá e Ferreira Isidoro.
- Em São Caetano: Rodrigues.
- São Jerônimo: Rodrigues de Faria.
- Em Serro Frio: Cunha, Medanha Sottomaior, Sá de Almeida, Fernandes Pereira, Ribeiro Furtado, Gomes Nunes, Costa Pereira, Lopes de Mesquita, Paes Barreto.
- Em Sumidouro: Fróis
A relação das cidades e sobrenomes acima constitui apenas um exemplo dos mais evidentes, não significando necessariamente, que não existam outros sobrenomes utilizados pelos cristãos-novos, bem como em outras localidades. Da mesma forma, não quer dizer que todo sobrenome Fernandes, Oliveira ou Pereira sejam necessariamente também de cristãos-novos.
TRADIÇÕES E COSTUMES
Antes de abordar o tópico acima, gostaria de mencionar um pouco algumas semelhanças antropométricas do povo interiorano mineiro citado por Elias José Lourenço em seu livro “Judeus: os povoadores do Brasil colônia” (2), tais como: …” face longa e estreita (cara de cavalo; alcunha feita aos mineiros em referência ao aspecto físico da face longa e estreita).
O índice cefálico nos deixa a primeira impressão de dolicocefalia; cabelos e olho, quando não escuros, são castanhos; a estrutura no geral é pequena: entre 1,60 e 1,68metros. O nariz perdeu muito da convexidade, mas não deixa de ser leptorrino na maioria dos casos.
É claro que a estereotipagem de um perfil humano é levado por via da antropometria não deixa de soar ridículo, principalmente, quando se refere aos povos do novo mundo, ainda mais se tratando do povo brasileiro, uma raça tão miscigenada.
Mas, em resposta aos argumentos e tendências racista de certos historiadores legaram para a história do elemento povoador e colonizador do Brasil, às vezes, é preciso o extremo de usar as mesmas táticas para mostrar exatamente a outra face de verdade outrora falseada da nossa história.
Sobre o aspecto étnico-cultural do mesmo povo supra citado, os mineiros descendentes dos emboabas, reinóis e numerosos pernambucanos e baianos chegaram para as Minas Gerais pelos caminhos do São Francisco, não é difícil identificar muitas semelhanças com a cultura e com alma do povo judeu; trocadilhos estabelecidos para os mineiros dando-lhes características, tais como: “todo mineiro é pão duro”… ou diz-se ser “o mineiro não abre a mão nem para dar tchau”…, são formas de caracteriza-los como semíticos, ou uma forma bem humorada da identificação entre as diversas culturas, longe de serem expressões pejorativas.
O fato é que a alcunha de pão-duro é empregada a dois povos aqui no Brasil: Aos mineiros e aos judeus. Seria esta mesma identificação uma herança étnica que os mineiros herdaram dos judeus e cristãos-novos, quando cresceu o afluxo destes para a região de Minas no final do século XVII e começo do século XVIII?”
Dentro de alguns costumes, eu mesmo me lembro bem de meus antepassados que viveram no interior de Minas, como:
– Tradição de casamento com consangüíneos por longas gerações, desde os tataravôs, bisavós, avós e pais. Era comum so pais escolherem o noivo ou a noiva para seus filhos;
– Tradição de seguir as fases da lua (Salmos 104:19), correlacionando-as com o ciclo agrícola. Para quem não sabe isto é bíblico, como por exemplo a Festa da Lua Nova (Colossenses 2:16) para marcar a entrada do novo mês. O calendário judaico segue o sistema lunar e não o calendário solar reajustado por São Jerônimo.;
– Deixar um resto de grãos nas lavouras para os pobres catarem ou colherem é também uma tradição bíblica e judaica;
– Tradição e costume de não jogar nada fora e aproveitar tudo, não havendo desperdício de nada. É uma tradição do povo judeu;
– Fama de usurário. Isto é, praticar o ato de usura, abrangendo não só o lado comercial de empréstimos financeiros, mas também de objetos e coisas. Desde a Idade Antiga, os judeus se destacaram entre os outros povos pelo o empréstimo de dinheiro. Na Idade Média, na Espanha, eles detinham o poder e o controle econômico. São considerados os primeiros banqueiros;
– A atração por comércio e por pedras preciosas, destacando o ouro e prata. Este foi uns dos motivos que eles vieram para as Minas Gerais. Acabaram por aqui ficando e se interiorizando. Por isso, houve concentração deles nos arredores de Ouro Preto, Mariana, Ponte Nova, etc. localizando-se mais tarde na zona da mata Mineira;
– Se comparados com seus vizinhos, se destacavam-se pelo excesso de trabalho, ganância e por sua inteligência;
– Faziam questão de manterem-se unidos, herdando a tradição de celebração de festas em família. Educavam-se seus filhos nos melhores colégios, normalmente, de irmandades religiosas. Tal costume é muito antigo, desde o tempo da perseguição inquisitória em Portugal. A fim de despistar sua identidade judaica, afirmando-se que eram verdadeiros cristãos-novos, colocavam seus filhos em escolas católicas;
– Mesmo quando se ocupavam do comércio e da agricultura, mantinham certos traços de fina educação e cultura. Era costume da época também contratar professores e mestres particulares para educação dos filhos. Gostavam de andar bem vestidos e compravam suas roupas importadas ou nos grandes centros comerciais, como na cidade do Rio de Janeiro. Sempre e até hoje os judeus se destacam na medicina, física, astrofísica e na ciência em geral;
– Ninguém pode negar a religiosidade do povo mineiro. Embora eu defendo a tese que a maioria dos descendentes de cristãos-novos nunca foram realmente católicos praticantes. Eram um povo de fé, mas não santos e nem imagens. No judaísmo o ato de idolatria, segundo a bíblia, é totalmente abominável a D-us. (Êxodo 20:3-5). Mas algumas tradições como pedir a benção aos pais na hora da saída e chegada em casa era até pouco tempo atrás uma boa tradição mineira. Pedir benção e abençoar é uma típica tradição bíblica e judaica;
– Passar a mão na cabeça no sentido de perdoar, acarinhar ou igonorar uma falta de alguém, é também um tipo de benção judaica;
– Varrer a casa da porta para dentro é um costume arraigado até os dias de hoje;
– Matar o animal sangrando, isto é, drenando todo o sangue. Um dos mandamentos mais praticados no judaísmo é não comer sangue (Levítico 7:26; Deteuronômio 12:16; Atos 15:20, etc.). Este costume não era observado pelos povos pagãos;
– Passar o mel na boca. É também uma tradição judaica, pois na circuncisão o rabino passa mel na boca da criança para evitar o choro;
– Lavar os mortos era um costume dos mineiros interioranos;
– Jogar um punhado de terra sobre o caixão quando este é descido à sepultura;
– O famoso “D-us te crie”após o espiro de alguém é uma herança judaica da frase “Hayim Tovim”, que pode ser traduzido como boas Vidas;
– Jurar pelo eterno descanso de uma pessoa morta querida, como jurar pela alma de meu pai, minha mãe, ainda é um reduto do povo hebreu;
– É muito comum o hábito sertanejo, antes de beber, derramar parte do copo ou do cálice para o “santo”. Na verdade esta tradição tem origem no rito milenar hebreu de reservar na festa de Pessach (Páscoa) um pouco do vinho para o profeta Elias.O ato de derramar uma porção da bebida se chama libação;
– Uso da barba cerrada sempre foi o costume judaico. Embora também ter sido este costume muito freqüente no período colonial;
– Evitavam trabalhar aos sábado. Era o dia do banho bem tomado, quando vestiam roupas novas;
– O uso da expressão “que massada!” é muito usada pelos mineiros para explicar uma tragédia em alusão a fortaleza de Massada, perto do Mar Morto, quando após a expulsão dos judeus nos anos 70 d.C., os zelotes habitaram nesta fortaleza, quando no final de dois anos, cometeram suicídio em massa para se livrarem de cair nas mãos dos romanos. Esta história é retratada pelo historiador da época, Flávio Josefo;
– O emprego do termo “Siza”vem do hebraico “sizah”quando vai se pagar o imposto. Isto é, pagar a siza;
– Entrar e sair pela mesma porta para trazer felicidade;
– Emprego do verbo “judiar” vem do tempo da Inquisição, quando maltratavam e perseguiam os judeus. Tem o sentido de torturar, atormentar;
– Fazer mezuras, ou reverência a “mezuzah” , estatuto bíblico(Deteuronômio 6:4-9), quando [é ordenado aos judeus colocar uma caixinha de madeira nos umbrais das portas, contendo um pedacinho do texto de Deuteronômio, quando se diz o “Shemah Israel”;
– O termo carapuça, como, a carapuça serviu para fulano de tal é uma expressão que vem da época da inquisição. Na idade média os judeus usavam chapéus alongados ou de três pontas para se diferenciarem dos outros não judeus;
– Experimentar o fio da faca na unha do animal antes do abate, também é um costume judaico;
– Lavar as mãos quer no sentido de inocência ou quer no sentido de higiene antes as refeições são preceitos bíblicos e judaicos (Dt 21:6-7;Sl 73:13; Mt 15:2).
Estes costumes são claras evidências da influência judaica trazidas pelos cristãos-novos que habitaram em Minas Gerais e ninguém pode negar estes fatos históricos, ignorando-os.