O ponto de partida para compreensão de toda a história do povo judeu, incluindo os marranos e os denominados cristãos-novos deve ser a própria Bíblia. Com ela nós poderemos compreender em detalhes a origem e a missão do povo judeu e a conseqüente perseguição. Não é propósito aqui discorrer sobre gênese do universo e do ser humano, tentarei abordar este assunto de uma forma bem imparcial, sem levantar nenhuma questão doutrinária ou sectária. Mas, a bíblia relata claramente que Deus criou os céus, os mares, a terra e tudo o que nela existe.
O povo brasileiro é fruto e fonte criadora de pluralidade cultural. A presença de outros povos em território nacional ajudou a moldar algumas de nossas principais características culturais, desde o desembarque de Cabral na terra que viria a ser o Brasil.
Visitar o circuito das cidades judaicas de Portugal é aprender com o passado, meditar e agir no presente e desejar ver cumprido o futuro dos fatos bíblicos. Joseph Shulam, Victor Escronard de Israel, Marcelo Guimarães do Brasil, Abílio Videira e João Azevedo de Portugal integraram a comitiva que esteve visitando as cidades históricas e judaicas de Portugal. A jornada se iniciou em Lisboa, começando por uma oração profética de arrependimento na Praça do Rossio, onde milhares de judeus luso-brasileiros foram ali julgados, condenados e executados pela Corte do Santo Ofício da Inquisição. A história nos mostra que mais de 80 mil judeus já viviam livremente em Portugal quando outros 120 mil judeus espanhóis cruzaram as fronteiras a partir de 1492 em decorrência de sua expulsão daquele país pelo decreto dos Reis Católicos de Espanha, endossado pela Bula do Papa Xisto IV, “Exigit sincerae devotionis Affectus...”.
Espalhados através dos continentes, os Judeus assimilaram grande parte da cultura dos povos entre os quais viveram, e muitas vezes o casamento exógeno acompanhado de conversões ao judaísmo trouxe para o grupo grande número de elementos, o que veio marcar profundamente o tipo físico desses Judeus: Louros em regiões européias, morenos no norte da África, quase mulatos no Iêmen, negros na Etiópia e no sul da Índia, mongólicos na Ásia Central; altos aquelouros, atarracados outros, dolicocéfalos ou mesocéfalos, uns com o nariz grande, outros com ele curto etc.
O povo judeu, tendo sobrevivido por milhares de anos nas circunstâncias mais adversas, incluindo o Holocausto, hoje é ameaçado por casamentos mistos e assimilação. As comunidades judaicas durante toda a diáspora estão vivendo um declínio demográfico. Por que isso acontece ? Há algo que pode ser feito para reverter essa tendência ? O desafio específico que os judeus enfrentam atualmente é como a identidade judaica pode ser mantida em uma sociedade aberta e secular. O maior perigo é a falha em reconhecer que os tempos mudaram e que, em conseqüência, as prioridades comunais também precisam mudar.
Falando, falando, já que falamos de nós por que não falar dos outros também? Só que vamos falar de nós judeus e dos outros judeus. Começando do começo, vamos definir as coisas.
Poderia um descendente de marrano ou cristão-novo ser considerado como judeu?
A princípio, não, se partirmos do conceito atualmente estabelecido por Israel e sua constituição que consideram judeu aquele que descende de mãe judia ou aquela pessoa que não sendo judia, se converteu ao judaísmo. É uma lei e toda lei é para ser cumprida. Aplica-se aqui o famoso ditado “dura lex sede lex”, a lei é dura, mas é lei. Mas, por outro lado, sabe-se que há falhas em qualquer sistema legislativo. Há leis justas, mas também injustas.
Já no século sete e seis a.C. dez das doze tribos de Israel começaram a se dispersar e a perder sua identidade judaica. Jeoaquim, rei de Judá, com todo povo foi levado cativo para a Babilônia durante o poderoso império de Nabucodonozor.
O nome Sefarad já aparece na bíblia por volta do ano 700/800 aC. Quando o profeta Obadias escreve:
"... Os cativos deste exército dos filhos de Israel possuirão os cananeus até Zefarate; e os cativos de de Jerusalém, que estão em Sefarade, possuirão as cidades do Negeve”(Ob. 20). Em outras palavras, o termo em hebraico “sefarad” corresponde a região onde está localizada a Espanha atual. Negeve quer dizer em hebraico “sul”. Assim, podemos entender que esta profecia ainda não se cumpriu e que os judeus sefaraditas deverão ocupar as planície do sul do Estado de Israel. O termo sefardita hoje corresponde a todo judeu que teve sua ascendência na Espanha e de lá foram para Portugal, Brasil, Turquia, Marrocos e norte da África. A população da comunidade judaica chegou a representar mais de 20% da população ibérica. Os judeus cresceram e prosperaram durante séculos. Dominavam a ciência, a medicina, a astronomia, a matemática, o comércio e deram origem aos primeiros banqueiros para empréstimos de dinheiro, inclusive para o próprio Estado.
Em 1591 nomeou-se o primeiro comissário do Santo Ofício, Heitor F. de Mendonça o qual chegou na Bahia no dia 09 de Junho. Oficialmente o decreto de instituição da Inquisição em Portugal e nos países do Reino só aconteceu no dia 31 de Março de 1821.
Entretanto, a separação entre Igreja e Estado no Brasil só ocorreu em 1891, na primeira constituição republicana, quando o direito de crer ou não crer foi respeitado.