Museu da Inquisição recebe homenagem da Câmara Municipal de BH

Discurso pelo Recebimento da Homenagem (diploma de honra ao mérito) da Câmara Municipal de BH pelo Primeiro Museu da História da Inquisição acontecido no último dia 21 de setembro de 2012.
(Marcelo Miranda Guimarães – Diretor-Presidente e Fundador)

Gostaria inicialmente de agradecer de coração ao querido amigo e irmão Vereador Divino Pereira de quem partiu esta iniciativa de homenagear com o Diploma de Honra ao Mérito ao Primeiro Museu da História da Inquisição no Brasil. O vereador Divino Pereira é da nossa região da Pampulha e tem trabalhado efetivamente para a melhoria da qualidade de vida das pessoas que nessa região residem e em toda a BH.

Há 25 anos venho pesquisando sobre a história e a memória perdida desses assimilados cristãos-novos, nome dado aos judeus portugueses que foram obrigados a conversão forçada ao catolicismo durante o período da Inquisição que durou mais de três séculos tanto em Portugal como no Brasil. Desde então, comecei a coletar dados e me deparei que minha história não era uma exceção, pois descobri que como eu havia milhões de brasileiros que descendiam também deste povo. Portanto, a história e memória de um povo precisavam ser resgatadas.

Devido a intolerância religiosa e a influência da Igreja no Estado, esta nossa história nunca foi relatada ou mesmo contada até então nos livros de história do Brasil, adotados nos currículos escolares.

Os Cristãos-Novos como um dos primeiros colonizadores do Brasil nos deixaram um grande e precioso legado, não só na introdução da Cana e produção de açúcar no nordeste brasileiro, como também o algodão. Em Minas Gerais eles chegaram por ocasião do Ciclo do Ouro, e aqui em nosso Estado deixaram grande legado na cultura, no desenvolvimento e na formação e estilo do povo mineiro, considerado por muitos um povo calado, desconfiado e por gostar de economizar tudo que pode, ganhou a fama de “pão-duro”.

Não podemos negar que o descobrimento do Brasil foi como um “mar vermelho” que se abriu para os milhares de judeus na condição de cristãos-novos que para cá vieram. Pedro Álvares Cabral era um converso nascido em Belmonte que aqui chegou com 13 naus, cujos capitães eram quase todos também cristãos-novos.

Em seguida, outro cristão-novo, Fernando de Noronha, converso e amigo do Rei Dom Manuel, aqui desembarcava com centenas de cristãos-novos para desenvolver na recém descoberta Terra de Santa Cruz o plantio de cana para produzir açúcar e exportar para Portugal e de lá para outros países da Europa. Milhares de outros cristãos-novos vieram para cá na busca de um lugar seguro, sem inquisição e sem os tribunais do Santo Ofício.

Mas, 90 anos após o descobrimento, as leis do Santo Ofício da Inquisição aqui foram estabelecidas e a partir dessa época os processos inquisitórios deportaram milhares de condenados brasileiros para os Tribunais de Lisboa, onde foram humilhados, torturados e queimados nas fogueiras da impiedade e da intolerância humana. Muitos mineiros que vieram por causa do ciclo do ouro em Minas Gerais foram condenados, daqui deportados e mortos em Portugal.

No sentido de descobrir e agregar esses descendentes foi que fundamos a Abradjin, Associação Brasileira dos Descendentes de Judeus da Inquisição no dia 10 de agosto de 2000, quando fizemos nossa primeira exposição de gravuras e textos sobre o tema inquisição. Começamos, então, a trabalhar criando um site, um pequeno banco de dados e adquirindo livros sobre o assunto da Inquisição Íbero-luso brasileira. Abradjin é uma fundação que respeita a crença de seus quase mil associados e ela é a idealizadora do Museu que hoje inauguramos.

Isto nos aproximou de grandes historiadoras, como a Dra. Anita Novinsky, Dra. Neusa Fernandes, Dra. Elvira Mea de Portugal e de outros. De lá para cá, fizemos algumas exposições de fotos, gravuras e textos sobre a Inquisição chamando atenção da comunidade para essa história não contada em nosso país.

Cremos que somos talvez última geração desses descendentes e que tínhamos que fazer urgentemente algo em prol da preservação desta história e memória. Contando com o apoio de minha esposa, meus filhos e Juntamente com outros amigos, viajamos a Portugal várias vezes, buscando conhecer mais da história, fazendo contatos com esse povo quase extinto e remanescente, pois em Portugal a presença dos judeus foi muito expressiva. Foi surpreendente nossa descoberta, pois encontramos e ouvimos histórias incríveis através das quais constatamos que a memória estava ainda viva. Voltamos a Portugal com a intenção de fazer um vídeo e gravamos toda nossa viagem nas terras de Cabral. Fizemos um documentário intitulado “Os judeus perdidos de Portugal”, que hoje é conhecido em Israel e no mundo.

A partir daquele momento, estava eu convencido que precisaríamos criar um museu histórico, onde pudéssemos mostrar de forma organizada e cronológica toda a história da inquisição que durou quase três séculos e meio tanto em Portugal como no Brasil.

Assim fizemos e com muita luta e com recursos próprios concluímos e inauguramos o primeiro museu da história da inquisição que até agora já recebeu mais de 1000 visitantes neste primeiro mês de funcionamento, dentre eles, professores, alunos, leigos e interessados em conhecer mais de nossa história. Visitando o museu, se verá um resumo dessa horrenda e cruel história da intolerância religiosa, onde os denominados hereges, dentre eles os judeus que representaram mais de 85% das vítimas da inquisição, sofreram e morreram nas fogueiras, cujas fumaças negras dissipavam a memória e a identidade de um povo que deu ao mundo um presente divino, a bíblia. Outros considerados hereges, além dos judeus, foram os feiticeiros, bruxos, agoureiros, bígamos e até mesmos os agnósticos e ateus que tiveram o mesmo horripilante destino. Eles também foram mártires dessa intolerância e constam em nosso acervo.

Esperamos que este museu será uma pá que abrirá as covas dos túmulos da omissão da história, restabelecendo a dignidade para todos os descendentes das vítimas silenciosas, repulsadas e esquecidas na sombra da ignorância e da intolerância humana.

O Museu da História da Inquisição não quer resgatar somente a história de nossos colonizadores cristãos-novos, mas princípios e pensamentos que ainda estão vivos num estado latente e que sob condições favoráveis germinarão no futuro como uma semente que dará muitos frutos. Creio que este é o nosso caso, pois percebemos que há uma memória latente e sobrenatural que pulsa em cada coração de um cristão-novo que se sente chamado para resgatar a sua origem e identidade e até mesmo voltar à terra de seus ancestrais, cumprindo um propósito sublime.

Nosso museu também abrirá espaço para estudantes e mesmo para historiadores que desejarem conhecer e pesquisar sobre a nossa história e o legado dos cristãos-novos na formação étnica, cultural e religiosa de nosso povo. Para isso, abrimos hoje nossas portas, oferecendo ao público um acervo bibliográfico com mais de 400 livros sobre o tema história da inquisição dos mais eméritos autores do Brasil e de fora, além de mostrar um acervo raro composto de documentos e objetos da época da inquisição, incluindo réplicas de alguns equipamentos de tortura.

O Museu da História da Inquisição está comprometido também com a cultura, com a educação, arte, promovendo a dignidade humana e a inclusão social.

Encerro agora contando a vocês sobre o meu próximo sonho: – ou seja, ver os ossos secos das vítimas da inquisição através de seus descendentes, resgatando a identidade de seus ancestrais e povoando a antiga terra de Canaã, de onde tudo começou, pois eu creio que não muito distante de hoje, no deserto do Neguev em Israel o português com sotaque brasileiro será falado nas ruas e naquele deserto árido dará lugar a campos floridos e doces frutos para o mundo, advento para a era messiânica, pois cremos nela conforme dito pelos profetas de Israel e pelos apóstolos.

Agradeço em meu nome e em nome da Diretoria da Abradjin, a presença de todos vocês e de maneira muito especial, ao nosso querido Vereador Divino Pereira, para quem desejamos ricas e divinas bênçãos, incluindo êxito para as próximas eleições, a minha esposa Rosangela e meus filhos, Matheus, Lucas, Tiago e Deborah juntamente com o Bernardo e outros colaboradores que comigo trabalharam efetivamente para a construção deste museu, meu sincero muito obrigado.

Marcelo Miranda Guimarães
Presidente e Fundador do primeiro Museu da História da Inquisição no Brasil.

Categorias

Receba no e-mail

Compartilhe este conteúdo!